Vida após a morte: taxidermista faz arte com nova técnica

Guilherme AlmeidaDiversos animais marinhos pendurados por fios de nylon no teto e presos nas paredes. Tartarugas, tubarões, jacarés, peixes de todos os tipos, imóveis, como em uma fotografia, mas com aparência e textura que faz esperar seus por movimentos. Nas prateleiras, mandíbulas e ossos de animais aparentemente amedrontadores durante a vida. Uma cena considerada sombria.

Esse é o ambiente de trabalho de Nelson Dreux Costa, o taxidermista do Museu da Pesca de Santos. O profissional explica de cara “Taxidermia é a arte de empalhar animais. Mas para mim o significado é outro. Não faz mais sentido usar palha no processo”, enfatiza.

Dreux desenvolveu uma técnica que troca a palha e seragem, materiais tradicionalmente usados, por plástico bolha e farelo de plástico, matéria prima para reciclagem. “A serragem era retirada de marcenarias. Além de suja, ficava úmida e era propícia para proliferação de micro-organismos. Com o material sintético, temos menos umidade, a peça fica mais realista e conservada por mais tempo”.

Amante da natureza, aos 59 anos, ele é o único taxidermista da Baixada Santista, mas nunca fez curso nenhum para a prática. “Aprendi sozinho, olhando o antigo taxidermista trabalhando”.

Sua primeira obra foi a reconstrução de dentes de um tubarão branco, em 1998. Até o ano 2000, Dreux trabalhou como ajudante do então taxidermista do Museu, Sebastião Medeiros. A partir de então, assumiu o cargo e 90% do acervo atual exposto foi confeccionado por Dreux.

Nascido no interior de São Paulo e morador da Cidade durante toda a vida, o taxidermista atribui as suas inovações à habilidade que sempre possuiu com trabalhos manuais. Desde bijuterias até olhos de resina, substituindo os menos realistas de vidro, tudo é feito pelo artista. “Faço miniaturas e imãs de gelo respeitando a anatomia dos animais reais. São verdadeiras réplicas”.

Entre alguns dos destaques da carreira do profissional está o processo de taxidermização do “Cão Herói”, celebridade na Angola (acompanhe o vídeo com o processo e entrevista em http://www.youtube.com/watch?v=quR2lGngGnA). único mamífero taxidermizado por ele. Também de sua autoria são a única lula “empalhada” do mundo e um tubarão duende, inédito no Brasil e de pele muito fina, o que torna o processo extremamente difícil. Mesmo com esses trabalhos no currículo, ele afirma não ser um profissional completo. “Estou sempre aprendendo e não quero parar nunca. Hoje aprendi uma forma de fazer olho de resina com menos material”, exemplifica.

Na porta de entrada para a sala onde cria as miniaturas está fixada uma parte da extensa coleção de matérias jornalísticas sobre o tema, o restante está em gavetas e pastas. “Vou reunir todas essas matérias para escrever um livro, passando minha técnica para os outros. Quero contribuir com educação, não deseducação”.

Antes de ser um taxidermista reconhecido, Dreux era motorista do Museu da Pesca. “O único documento profissional que eu tive foi a habilitação”, brinca.

Amante da natureza, ele ressalta que sua preocupação com os estagiários de Biologia Marinha que trabalharam com ele foi a educação ambiental, mesmo não gostando do termo. “Quem tem educação em casa, já tem essa educação. Além de ensinar sobre taxidermia, converso sobre política, livros, com quem trabalha comigo”, finaliza o especialista, que ainda apresenta outra curiosidade além de sua própria profissão: Dreux ouve rap enquanto trabalha e garante que não atrapalha.

Texto e Foto: Guilherme Almeida

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